quarta-feira, 26 de março de 2008

Hoje o céu está tão lindo

Todo mundo teve uma galocha vermelha. Todo mundo foi de galocha vermelha pro colégio. Logo depois da galocha, muita gente teve um L.A Gear de dois cadarços. Depois de um tempo, todo mundo teve aquele reebok branco com uma listra na lateral da sola. A minha era rosa. Passado o reebok, todo mundo teve um Keds branco, pelo menos um genérico. Junto do Keds, todo mundo tinha uma botinha da Mr Cat pra usar nas festas à noite. E junto da botinha, todo mundo teve um mocassim de bolinhas na sola, provavelmente também da Mr Cat. Depois do trio Keds-Botinha-Mocassim, todo mundo teve um Adidas. E junto do Adidas, todo mundo tinha sandálias altas pra usar nas noites. A ditadura do All Star veio depois e então nós que entre um Reebok e um Keds tivemos All Star pudemos relembrar os velhos tempos de infância.

Aparentemente, alguém muito importante resolveu resgatar sua galocha vermelha. Aparentemente também, essa pessoa achou prudente dar uma repaginada na galocha, fazer um xadrez, estampas, fivelinhas e o que mais fosse necessário pra deixa-la desejável a uma horda de consumidores.

Talvez sejam as águas de março, talvez seja que o Rio não tem nenhuma personalidade no vestir-se, talvez seja o mosquito da dengue, fato é que ameaça chover (e tem chovido) e as ruas são invadidas por galochas de muitos tipos, cores e tamanhos.

Eu não vou comprar uma galocha. Nada contra, acho até divertido. Mas não me venham com mocassins de bolinha...

sábado, 15 de março de 2008

etiqueta de composição

Lia Rodrigues adora nudez e a explora constantemente em seus ballets. Em questão de minutos seus bailarinos ficam nus. Carlota Portella se valeu do tema em uma de suas peças de dança, de forma mais sutil e lindamente iluminada. Zé Celso desnuda seus atores e isso já virou marca registrada. Gal Costa já cantou com os seios à mostra. David de Michelangelo ficou imortalizado sem roupas, assim como incontáveis musas e deusas ao longo da história da arte. Marylin Monroe aparece estonteante em sua última sessão de fotos, exposição que veio ao Rio em 2007. Adão e Eva eram adeptos da moda.

Eu aprecio a nudez em suas diversas formas. Mas gosto mesmo é de roupas.

Imagino uma série de indivíduos nus e todos me parecem iguais. Uma vez equipados com blusas, calças, camisas, saias, vestidos haveria uma série de detalhes e formas diferentes, surpreendentes. Acredito que a roupa revela muito mais particularidades de uma pessoa que seu corpo nu e acho que no fundo as nuances dos seres me interessam muito mais que o cru de cada um.

Um tênis, um rasgo na calça, uma combinação de cor. As roupas nos dão impressões e dicas sobre a personalidade de alguém, às vezes sublinhando, outras tentando ocultar certos aspectos e fatalmente são a primeira impressão que temos de desconhecidos.

É por isso que tendo a gostar mais de gente vestida que de gente pelada. Já dizia o Ultrage a Rigor: pelado todo mundo fica, todo mundo é. Com roupas, o buraco é mais embaixo.