segunda-feira, 30 de junho de 2008

Por trás dessa lente

Releitura - é disso que vive a moda. A cada nova estação o que vemos é mais do mesmo, porém adaptado aos tempos. A palavrinha é curinga em qualquer texto sobre o assunto. Em alguns, encontramos os sinônimos: reeditado, um perfume de..., repaginado. É batata.

Nos anos zero, alguém que era alguém no mundo saiu de casa vestindo seus óculos Wayfarer e desde então eles ganharam as ruas. Os Wayfarers foram desenhados em 1952 e fizeram fama em rostos como o de Bob Dylan, Audrey Hepburn e Andy Warhol, entre outros.


Antes disso, os Ws foram muito populares nos anos 80 graças a suas aparições em sucessos como Miami Vice e em mais rostos célebres como os de Jack Nicholson, Morrissey, Johny Marr e Elvis Costello. Foi a época das mais altas vendas do modelo da Ray Ban, originalmente desenhado para pilotos.


Nos anos zero os Ws sofreram alterações em seu design original que foram consideradas "horrorosas" por um renomado jornal inglês. As tais alterações pareceram não importar a quem quer que seja que o tenha colocado um dia, e essa pessoa era alguém pois em poucos meses os Wayfarers estavam ocupando cabeças de pessoas cool como Chloe Sevigny e uma das irmãs Olsen. Estava lançada a tendência: de 2007 e 2008, se você é alguém cool, não sai de casa sem os seus Wayfarers, pretos ou coloridos, tanto faz.


Junto da onda oitentista que se abateu sobre o mundo da moda, os Wayfarers vieram bem a calhar. Combinados com as calças skinnys e camisetas engraçadinhas que remetem aos tempos New Wave, calçados com Reeboks nos pés, o povo antenado usa e abusa das lunettes de acetato.


A mania parece durar tempo demais, mas não se engane: nós não usamos calça de cintura alta a vida toda, um dia todo mundo se encheu e a Gang teve seu lugar ao sol. Logo a moda se esgota e relê alguma outra coisa. Enquanto isso os Wayfarers não saem das cabeças de um monte de gente (bem como as músicas do B-52s não saem da minha cabeça cada vez que vejo um deles na rua). Pena que eu não guardei o meu par...


terça-feira, 10 de junho de 2008

O Fashion Rio do meu tempo

Antes de virar Fashion Rio, a semana de moda carioca acontecia numa grande tenda montada no estacionamento do BarraShopping. Dentro desta havia divisões que formavam as diferentes salas de desfiles. Já naquela época as salas tinham as arquibancadas que até hoje existem, um grande número de assessores de imprensa e o Caderno Ela fotografando os modelitos dos anônimos que circulavam nos apertados corredores.

A Mara Mac ainda era Mariazinha, Frankie ainda não era suspeito de ter assassinado Amaury (ou vice-versa), a Totem era a nova febre, Lenny e Salinas já eram as grandes marcas de moda praia (porém seus biquínis tinham preços decentes) e eu tinha convites para um dos primeiros desfiles da Santa Ephigênia porque era cliente dos tempos de Mercado Mundo Mix (quando este acontecia na Fundição Progresso).

Eu e minha irmã íamos aos desfiles e a tia Ana se encarregava de nos colocar pra dentro dos outros para os quais não tínhamos entrada. Regina Guerreiro era a mais Vip dos Vips. É mais ou menos tudo o que consigo lembrar.

Provavelmente achávamos bacana por ser um programa novo e fora do comum. Não pensávamos se o evento atraía investidores para o crescente mercado de moda, se novos criadores ganhavam visibilidade, se os modelos apresentados eram comerciais, conceituais, bem costurados, bem modelados, se as meninas eram anoréxicas, se a luz estava em sincronia com a trilha sonora. No máximo ficávamos animadas com os vestidos e biquinis bonitos que poderíamos comprar depois de alguns meses. Sim, poderíamos comprar.

Passados muitos anos, a Semana de Estilo BarraShopping virou Fashion Rio no MAM e depois na Marina da Glória. A Santa Ephigênia deixou de me enviar convites. A Lenny Niemeyer aparece num comercial de televisão dizendo que há um grande investimento no Rio de Janeiro (será?). A Salinas continua arrasando na praia, a Mara Mac no asfalto e a Totem na trilha sonora (sempre melhor que as roupas).

Minha última maratona de desfiles foi há algumas temporadas atrás quando era assistente de produção da Zizi, que tinha poderes ilimitados entre os assessores de imprensa e substituiu a tia Ana. Nessa época uma amiga cobria os desfiles com a Iesa e nos encontrávamos nos intervalos nos lounges, sempre tirando as pashiminas ou casacos que usávamos para enfrentar o frio que fazia dentro das tendas. Sabíamos a diferença entre vichy, tartan e madras. Sabíamos o que era georgette, chifon e seda estonada. Sabíamos também que a Extra teria os melhores acessórios e sandálias e que qualquer vestidinho estampado custaria tanto que não os compraríamos. Carregávamos bolsas e sacolas e cadernos que ganhávamos de brinde e sabíamos quem era quem nos bastidores do mundinho fashion, como (irritantemente) diz a Érika Palomino.

Provavelmente achávamos bacana por ser um programa onde nos inseríamos com objetivos profissionais, onde podíamos refinar um pouco nosso olhar sobre a produção de moda no Rio, mesmo que fosse a roupa do mainstream, mesmo que fosse um jogo de cartas marcadas.

Sobre a atual e as últimas temporadas na Marina da Glória, não arrisco uma palavra. Virei uma outsider completa. Tudo o que sei é que a Beta trocou a Iesa pela Gema, um amigo desfilou pela Totem. Vi algumas fotos em sites, achei o desfile da Mara Mac deslumbrante, o da Salinas também. Li algumas coberturas e continuo achando que a maioria dos jornalistas de moda tem um tom prepotente que nos faz desistir de ler qualquer análise além da 4a linha. O que me chama mais atenção é como os corredores, agora largos e ao ar livre, viraram o centro das atenções onde os anônimos exibem suas roupas transadas e posam para lentes com a mesma desenvoltura das modelos. A passarela não é mais a estrela da festa e muitos desfiles deixaram de ser desfiles para virarem performance.

Fica a pergunta: será que mudou tanto assim?

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Quotes

"This is a word that would need a book to give it its right definition! I will only say now that elegance must be the right combination of distinction, naturalness, care and simplicity. Outside this, believe me, there is no elegance. Only pretension."

Christian Dior sobre Elegância.

"Disse alguém que a verdadeira elegância não é sequer notada. Não andemos tão longe. Mas é necessário convir que não é pela atenção que se chama que se pode avaliar a elegância. (...) Não use roupas que a incomodam. Por mais belas que sejam, ao fim de algum tempo, prejudicarão a graça dos gestos, a naturalidade dando um ar 'endomingado' a quem as use. Quem pode sorrir espontaneamente quando a cinta está tão apertada que quase tira o fôlego? (...) Um dos melhores modos de usar bem um vestido é, depois de vesti-lo, esquecer-se dele."

Clarice Lispector sobre Elegância.