quinta-feira, 22 de maio de 2008

Vestido no Rio de Janeiro

Todo dia, a caminho do trabalho, passo por algumas vitrines e as olho sem me deter. A maioria é de lojas onde raramente entro e certamente nunca compro. Algumas são aquelas lojas típicas de Copacabana que ainda vendem vestidos de festa plissados combinando com a echarpe e tailleurs feitos de tecidos com ar decorativo. Outra, na verdade, é uma mini galeria de roupas de ginástica. No meio delas, uma série de lojas de moda jovem daquelas que vemos por toda a cidade.

Um dia em que caminhava com mais calma pro escritório, achei simpática uma blusa cinza numa das vitrines. Uma blusa básica, manga comprida, uma gola bacaninha, uma peça dessas sem complicações, quase uma Hering branca.

Na hora do almoço voltei pra vestir e quando cheguei na porta achei estranho porque de manhã a blusa era cinza e agora estava verde. Aí me dei conta de que não era a mesma blusa, tampouco era a mesma loja. Nessas horas é batata, você tem certeza que está no Rio de Janeiro e que o mercado de moda aqui funciona de forma muito simples. Não é implicância. Nos últimos anos surgiu uma horda de lojas que bebem da mesma fonte. As vitrines já denunciam. As deste inverno, por exemplo, contém uma galocha, meias opacas, shortinhos, manguinhas românticas e suas versões do sapato Oxford. Invariavelmente. Tiveram sua fase viscolycra, aderiram à viscolã, houve a época dos casaquetos à la anos 50, os vestidos com legging. Agora todas têm sua própria linha de lingerie e de objetos para casa.

Quando o assunto é moda, eu sou contra o sistema mesmo, porém não é gratuito. A minha relação com a roupa vai muito além de um senso estético ou do que é bonitinho ou do que está nas revistas. O que uso e compro está diretamente ligado com o que escuto, leio ou converso. Eu não consigo me prender a um único assunto, a um único tipo de música ou a um único gênero de filme. Com roupas não seria diferente. Eu aprecio a camiseta fofinha de malha ecológica de bambu ao mesmo tempo em que sou louca pelas peças conceituais do Felipe Eiras. Acontece naturalmente, você lê a Bravo e a Caras, vê filmes asiáticos e sabe as músicas da Noviça Rebelde de cór.

A moda vendida cada vez mais aqui é aquela que já vem pronta dos sites e palestras de tendências, das marcas que todo mundo visita quando viaja pra pesquisar, das mesmas modelagens que todo mundo copia de revistas e afins. Se os estilistas reproduzem as referências sem qualquer reflexão o público não fará menos que consumir idem. O que acontece é essa pasteurização das vitrines e diversas marcas que antes tinham identidades tão próprias acabaram virando apenas mais uma. Dá pra morrer de tédio em um piso do shopping.

Por um lado você nunca se sentirá rejeitado, fashion-mente falando. Por outro será mais um peixe listrado nadando junto ao cardume. No fundo é mais fácil. E é aí que está o X da questão. A postura que você adota com o seu guarda-roupa nada mais é do que uma extensão da postura que você adota pra sua vida. Pode soar dramático demais para quem acha que moda é uma futilidade. Mas não é o que usamos todo dia?


2 comentários:

Anônimo disse...

assino embaixo!

Anônimo disse...

Ai, complicado. Dizer que não liga para roupa é mentira. Mas ligar demais ao ponto de fazer relaçoes existencias já fica complicado para mim.
Eu gosto de hering branca, biquini com estampa ( listra, floral, bolas) e calças jeans confortáveis.