Contrariando todas as expectativas e previsões, eu não voltei falida de NY. A mala abarrotada não aconteceu e eu praticamente entrei por uma porta e saí por outra da maioria das lojas que todo mundo disse que eu ia amar. Eu até consigo entender o poder de sedução dos preços americanos e sim, achei a Antropologie muito charmosa.
Mas achar boa ideia olhar araras de lojas de 3 andares com músicas aos berros, gente saindo pelo ladrão e tecidos e acabamentos duvidosos, não. Não tem preço que me convença que uma blusinha da Forever 21 possa resistir a uma lavagem. Eu nem precisei manter o auto-controle. Fazer compras nos Estados Unidos me deu um bode tamanho que voltei com dólares na carteira.
Poderia ter sido diferente se eu tivesse sucumbido a uma única tentação. Ok, duas tentações. A primeira se deu no andar de sapatos da Barneys onde, pra começar, eu teria ficado feliz e realizada com 3 singelos pares: um Oxford amarelo, uma espadrille Lanvin e uma sapatilha Chloé. Mas só de pensar que essas preciosidades poderiam sujar, pior, poderiam num dia desavisadas pegar uma chuva carioca, eu já comecei a suar frio e procurei a escada rolante mais próxima.
Alguns pisos acima, a seção de lingerie me esperava. Eu sonhava com todos os sutiãs retrôs da VPL e da The Lake and Stars, eu derretia só de pensar na arara da La Perla. Eu não esperava que as peças da Carine Gilson fariam com que essas outras parecessem bem mais sem-graça do que julgava minha imaginação. Mas até aí em meio às rendas o destino pareceu funcionar. Não sei quão íntima é a revelação que seguirá, mas enfim: eu não nasci pra usar sutiã. Na verdade mesmo eu fui feita somente pra usar calcinhas grandes da La Perla, e era uma dessas que a micro sacolinha da loja continha quando me vi respirando aliviada na calçada.
Continuei passeando pela Madison Av., já calculando quanto de dinheiro sobraria da viagem pra eu gastar na minha querida e adorada Zara do Leblon. Esse pensamento era bem provinciano, eu sei, mas a essa altura eu já não me importava mais. O mote era consumir.
Eis que então, alguns blocos à frente, me deparo com uma foto PB de Lennon e McCartney em meio a vestidos que poderiam ter saído dos ateliês de Courrèges ou Pierre Cardin. In fact, a Twiggy poderia, a qualquer momento, sair pela porta da loja carregada de sacolas ostentando os maiores cílios postiços do mundo. Um choque de cores e vestidos em A me ganharam. Eu percorri ávida as araras e já visualizava todos aqueles belos vestidos no meu armário. Eu pensava, inclusive, em construir um armário exclusivo só para os dois ou três vestidos que certamente eu compraria ali. Aquelas perfeições do corte e modelagem não poderiam se misturar aos meus agora reles vestidinhos de algodão. Eu esqueci da Zara, da La Perla, da falta de peitos, eu até já nem queria mais rever os Matisses do MoMA. Eu poderia morar naquela loja por alguns dias. Diante do algodão quase lã de que eram compostos os vestidos, eu comecei a planejar mais idas a São Paulo no inverno, pensei até em prolongar o desemprego e ir visitar a Cissa em Londres. Me vi andando em King’s Road com meu vesitidinho rosa choque. No meu devaneio eu era toda a Swinging London ressuscitada. Até que me deparei com a verdade em forma de cifra. Os vestidos da Lisa Perry custavam mais de 800 dólares. Eu refiz todos os cálculos, pensei que poderia ir na Apple e devolver meu recém-adquirido notebook. Pensei que podia fazer um bazar ao voltar pro Brasil, vendendo todo o conteúdo do meu armário, afinal os vestidos geométricos da Lisa Perry eram um divisor de águas. Pensei, enfim, em inúmeras estratégias para poder adquirir unzinho que fosse, e concluí que teria de vender um rim para tal.
Por sorte o Beacon's Closet me esperava, enorme e entulhado em Williamsburg. Em meio a um certo cheiro de mofo e achados engraçados como um vestido da Maria Bonita Extra, o brechó mais irresistível do mundo me amou, e saí de lá dona de 4 incríveis vestidos (nenhum que lembrasse Courrèges ou fizesse qualquer menção a futurismo) que custaram 15 dólares cada. Desde então circulo pelo Rio exibindo o que acabou sendo o meu preferido e que é um exemplar em jersey dos anos 70, do tipo que Mary Tyler Moore usaria. Com minha La Perla, por baixo, bien sur!
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