quinta-feira, 8 de março de 2012

Por outro lado...


Há alguns anos atrás, numa aula do curso de jornalismo de moda do Senac, a professora propôs um pequeno debate em torno do conceito de um desfile. Mais um SPFW havia terminado, uma pequena parte da turma tinha feito uma cobertura amadora do evento e eu tinha me debulhado em lágrimas no desfile do Ronaldo Fraga (“Tudo é risco de giz” – inverno 2009, se não me falha a memória).

É claro que as performances do Ronaldo estavam no cerne da discussão. Algumas outras marcas investiam (e ainda investem) em apresentações elaboradas em que não apenas a roupa era estrela da festa, mas os desfiles de Ronaldo Fraga sempre tinham um apelo dramático que os outros não possuíam. Jum Nakao já tinha encerrado o seu show, infelizmente. É claro, também, que falamos de Alexander McQueen, ainda vivo àquela época, além de outros nomes internacionais como Hussein Chalayan.
 
Há cerca de duas semanas, li uma entrevista com Ronaldo Fraga na revista da Gol (linhas aéreas), e hoje topei com essa da TPM.

Em algum momento da minha vida, cruzei com Ronaldo, a mulher e os filhos numa estação de trem em Ouro Preto, e tive vontade de ir cumprimentá-lo, o que infelizmente não fiz. De lá pra cá, tornei-me cada vez mais tiete do homem: gosto dos óculos, da loja de São Paulo, do sapato que tenho dele no armário, das performances, do nome dos filhos (um moleque chamado Graciliano – queria ter um filho só pra batizá-lo assim), das roupas, da exposição, dos desenhos, do bigode.

Sobretudo, gosto das ideias do Ronaldo Fraga, da forma de pensar a moda e das tradições que ele insiste em resgatar, e que vão muito além dessa discussão boba (sobre a qual a mídia e a "crítica" também se debruçavam - e ainda se debruçam) do valor de um desfile-performance X desfile tradicional. O Ronaldo Fraga é uma dessas pessoas de quem eu adoraria ser amiga, e a quem não me canso de elogiar.

 
“(...) ali aprendi que a escolha da roupa é uma conquista amorosa. Uma conquista amorosa com o outro, com o seu grupo, com você mesmo. Foi daí que peguei gosto em ouvir a história do outro e em contar uma história com a roupa, porque ficava ouvindo as histórias. Ficava imaginando: “Eu tenho que tirar da fala dela uma roupa que nem ela está sabendo que quer”. Além disso, enquanto desenhava, assistia aos vendedores desenrolando os tecidos. Eu sentia o cheiro daquilo, sinto esses cheiros até hoje. Sou capaz de dizer a composição de um tecido pelo cheiro que ele exala ao ser rasgado, ao ser cortado.” - Ronaldo Fraga


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