quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Eu decidi dizer que eu nunca fui o tal...*

Os meus 3 graus de miopia chegaram a galope e sem aviso prévio, quase como o meu tamanho: um dia eu acordei comprida e não enxergava de longe. Foi quando o meu primeiro dilema estético surgiu, calcado em questões de fundo psíquico gravíssimas criando uma logística física que apenas não procedia. Minhas questões eram de diversos tipos: como conciliar óculos com aparelho fixo aos 15 anos e não ser excluída socialmente? Alguém vai querer beijar minha boca juntando esses dois fatores a um cabelo cacheado? E na aula de ballet, como vou fazer diagonal de debulê mantendo as hastes na cara?

Outras dúvidas eu tinha quando colocava um short e pensava: será que minhas pernas ainda vão crescer mais? Quem vai me aceitar assim desse jeito cheia de pernas e metais no rosto? Até de calça eu parecia ser apenas uma cabeça em cima de duas pernas longas. Enquanto minhas amigas tinham pares de seios e outras curvas muito mais atraentes, eu calçava 38 e tinha que diminuir o passo pra acompanhar a turminha. Literalmente.

A solução chegou quase tão rápido quanto o problema de vista: lentes de contato e calça de cintura baixa. A dobradinha era perfeita: de manhã eu ia de óculos e camisola até o banheiro, colocava as lentes e de volta ao armário eu vestia uma calça ou qualquer outra coisa de cintura baixa, me transformando, então, num ser aparentemente normal.

Passados uns 10 anos eis que mais um dilema estético aparece, e dessa vez parece ainda mais complexo.

Tão espontâneo quanto a chegada da miopia foi a alergia que agora me acomete: não posso mais usar lentes de contato. Do dia pra noite meus olhos começaram a coçar, arder e incomodar de forma que fui a dois oftalmologistas que me diagnosticaram da mesma causa e prometeram a cura idem. Passado um mês de pingações insanas de colírios, eis que a alergia persiste e minhas pesquisas e enquetes pessoais apontam para a trágica conclusão de que não mais poderei usar as lentes, donde uma nova leva de perguntas brota, sendo a última a mais dramática: como faz pra mergulhar no mar de óculos (fiz o teste hoje – levanta-se o braço que segura o óculos escuros de grau, mergulha-se rapidamente e dá-se a largada rumo a areia, sem direito a ficar boiando)? Óculos e brincos grandes, dá pra usar tudo ao mesmo tempo? E óculos e echarpe e brinco juntos?! Como faz pra ir pra natação sem lentes (ainda que não haja nada imperdível no fundo da piscina...)? e se chover no show da Madonna, como vou enxergar a vida ao meu redor com óculos encharcados??!

Penso em comprar um boné impermeável para o evento, bem como uma galocha.
As pernas não mais cresceram. E mesmo com essa moda de cintura alta e pantalonas, não me abalo, afinal as tendências são democráticas. Troquei o aparelho fixo por um piercing e fiquei apaziguada com meu cabelo cacheado. Mas quatro-olhos, isso não, me recuso. Me sinto completamente desamparada vendo o sol nascer quadrado.

* Paralamas do Sucesso in Óculos (dãr).

4 comentários:

bruna disse...

Se sempre conseguissemos encarar os problemas com esse humor... Pra show da Madonna eu tenho sugestões! Você usa aquela espécie de guarda-chuva colorido que no Carnaval alguns seres colocam direto na cabeça, ou montamos uma tenda VIP, ou você vai de sombrero
Complicado mesmo vai ser no Boitatá.

Beta disse...

Uau! 2 posts em 2 dias! Way to go!
Bem, para curto prazo não tenho nenhuma sugestão, sorry.
Porém longo prazo... 3 graus, sem lente nao rola.
Opera! :)

bjs

Anônimo disse...

a-m-o essa musica !!!!!

Anônimo disse...

Ah, relaxa. Sua vida vai ficar muito mais fácil na praia e na natação quando você perceber que nem tudo é pra ser enxergado.

O meu grau eu parei de contar no 5. E aprendi a conviver bem com a cegueira na hora de dar um mergulho.

É um negócio meio Senhor Miyagi, sabe? Do tipo se guiar pelo sentimento, que você encontra o caminho até a cadeira na volta.

(Quanto a óculos, echarpe e brinco - e o show da madonna -, aí eu já não tenho como ajudar.)