segunda-feira, 30 de março de 2009

De trabalho

São 15 pessoas que temos que vestir para a foto, mas o volume de sacolas, cabides, steamers e fita crepe levaria qualquer um a crer que um time inteiro de futebol e sua torcida poderiam sair dali prontos para os clicks do fotógrafo. É um exagero, assim como a quantidade de crianças que vão participar do desfile do dia seguinte: mais de 50. Quando os 15 estão vestidos, alguém da direção de arte descobre que ficou faltando um capacete de moto, portanto alguém do figurino, que já cumpriu sua função, vai até a concessionária de carros ao lado tentar arranjar o tal capacete emprestado. Enquanto o Laurentino (aparentemente o único funcionário a fazer uso de motocicleta) não chega, o gerente de vendas dos semi-novos me diz todas as vantagens de se comprar um semi-novo. Seus argumentos são convincentes e confusos, porque ele começa a falar sobre impostos e taxas que dão nó na cabeça de qualquer pessoa que usa calculadora do celular pra dividir conta de restaurante. Ele percebe que me perdeu quando começa a dizer porcentagens, e quando eu digo que o meu carro é 2005, mas talvez seja 2006, ele saca que não vai fechar negócios. Mas como ele é brasileiro e não desiste nunca e Laurentino está chegando, ele saca de sua gaveta uma filipeta e diz que eu deveria ir ouvir a palavra de deus. A filipeta é da sua igreja, a foto é de surfe e o nome do local é “Bola de Neve”. Tento calcular quanto esse cara deve ganhar de comissão da concessionária e só posso concluir que a igreja deve estar pagando melhor, porque a sinceridade dele em dizer que eu devia ouvir a palavra de deus é tão grande que chega a ser comovente.

Laurentino me salva quando aparece e diz que a moto está logo ali, ao lado do posto que virou set. Quando eu me aproximo da foto com o capacete na mão, me acenam do outro lado, adivinha? Alguém conseguiu um capacete vermelho muito mais cool que o do Laurentino.

Eu espero um pouco, o tempo que julgo suficiente para devolver o capacete ao Laurentino dizendo “muito obrigada, a foto ficou ótima” e não digo que outro capacete foi usado no lugar. Penso se o povo lá na “Bola de Neve” me perdoaria por esta mentira.

A foto termina, a gente empacota tudo de novo e se prepara para todas as crianças que virão barulhentas e maquiadas amanhã.

Eu digo que trabalho com moda, mas, seriously, não tenho tanta certeza assim...

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